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Como deve o líder reagir a criticas das pessoas da sua equipa?
Em sessões de trabalho em que se identificam questões, problemas ou situações difíceis nas empresas, há uma questão recorrente dos trabalhadores: Não vai haver represálias por eu dizer o que sinto?
Esta é uma questão pertinente e legítima. Ouvimos muitas histórias de pessoas que acabam por ser prejudicadas pela sua abertura e por dizer o que pensam, o que sentem, a sua perceção sobre as situações que ocorrem nas empresas.
Todos conhecemos histórias sobre pessoas que foram prejudicadas por ter uma opinião contrária ao chefe, ou por contrariar o seu pensamento ou perspetiva. Algumas são mitos urbanos, outras são reais e que aconteceram connosco ou com pessoas que conhecemos.
Se uma pessoa com responsabilidades numa equipa aproveita uma reunião, uma auditoria, um balanço em que se pede aos trabalhadores para para dizerem frontalmente o que lhes vai na alma, essa pessoa deverá ter a capacidade de ouvir atentamente sem julgar. Ouvir sem cair na tentação de rebater ou argumentar com o que é dito; de ouvir sem apontar o dedo, sem procurar culpados, sem aproveitar para fazer uma caça às bruxas. Se o fizer, está a criar uma barreira na comunicação que se pode tornar intransponível e a minar a confiança da sua equipa.
A confiança é um fator de grande impacto na construção e manutenção de equipas com elevado desempenho.
Recentemente, numa sessão de identificação de problemas numa empresa, alguém fez a pergunta tradicional: "E não vamos sofrer represálias por estar a dizer o que está mal?"
Respondi: "Acredito que não! Sei que se sentirem algum tipo de represália, estas sessões deixam de fazer sentido e perde-se uma oportunidade enorme de identificar o que está mal e melhorar."
Por estranho que possa parecer, os líderes não são super-homens ou super-mulheres. São pessoas... Têm emoções, têm momentos melhores e piores. No entanto, devem ter a consciência que o que disserem ou fizerem tem um forte impacto nas suas equipas. Se não tiver capacidade de gerir as suas emoções, de controlar a sua impulsividade, de praticar a escuta ativa e aceitar escutar o que as suas pessoas têm para dizer, corre o risco de perder a sua equipa. É claro que a crítica custa. Sentir que estão a identificar qualquer defeito num projeto ao qual dedicamos tanto tempo, que tratamos com um enorme carinho, a que nos dedicamos horas a fio... dia e noite! Claro que custa. No entanto, é bom que se desenvolva a capacidade de ouvir o que nos dizem, analisar com cuidado o que apontaram e determinar o que pode e deve ser feito para melhorar a situação. Sempre com um grande foco de comunicar bem e permanentemente com a equipa.
Talvez seja importante ressignificar o conceito de crítica: devemos ver a crítica, como ouvi um dia um líder de um grande grupo industrial, dizer às suas pesssoas do projeto turístico (hotel) que estava a certificar, que uma reclamação é como um presente que nos é dado, pois contém a oportunidade de sermos melhor e tornar o ambiente mais agradável. Claro que deve ser analisada e ser dado o tratamento adequado. Mais, o líder deve ter uma atitude de gratidão e reconhecimento pelas suas pessoas ou os clientes partilharem os problemas com eles e com isso, promover a melhoria da organização.
A grande questão é preferimos ter pessoas na equipa, na empresa, que digam sim a tudo, que não contrariem em nada, que não apontem as falhas e os erros e para as quais esteja sempre tudo bem ou pessoas que identifiquem os problemas, sugiram melhorias, apontem falhas, sempre com a perspetiva da melhoria? Esta questão é fácil de responder e difícil de pôr em prática. Quando um líder consegue ter controlo sobre si próprio para diminuir a sua impulsividade, para saber ouvir sem interromper e sem julgar, e sabe o momento certo de falar, está a aumentar a confiança da sua equipa em si.
No livro "A gestão segundo Richard Branson" há um título de um capítulo que se denomina "Não lidere carneiros, recrute gatos". Este título diz muito sobre a cultura de empresa e do tipo de líder: Quero pessoas que digam sim a tudo de forma acrítica, ou prefiro pessoas com uma dose interessante de independência e que tenham capacidade de analisar e dar a sua opinião? O líder capaz e confiante aceita as críticas e entende-as como um presente inestimável, como um contributo sem preço para o sucesso. Esta ação, se praticada todos os dias, em todos os momentos, é uma ação consistente para gerar confiança nas suas equipas. Uma confiança que se desenvolve todos os dias, lenta e continuamente, que exige cuidado e atenção, pois pode destruir-se com uma facilidade impressionante, num instante.
Ganhar confiança, apesar de ser um processo moroso, é fundamental. A confiança é um fator determinante no sucesso das equipas.
Trabalhar a confiança, controlar os seus impulsos, pensar no que se vai dizer ou fazer para evitar a desconfiança da sua equipa, é fundamental. Não há diferentes lados numa equipa. Estamos todos do mesmo lado.
O líder deve ser um fator de união para a equipa, deve promover o espirito de equipa e assegurar que todos contribuem para uma equipa mais sólida e eficiente.
Lembre-se: Liderar bem é tornar o mundo um sítio melhor!