É possível mudar uma organização enorme com pequenas ações, ou são necessárias grandes intervenções para uma mudança efetiva?
Eu acredito que muitas pequenas ações têm grande impacto.
É fundamental serem implementadas de forma transversal;
É importante terem um processo de implementação contínuo e regular.
Recentemente, fui convidado para dar formação no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, no âmbito do projeto Humanizar, que tem como objetivos: "sensibilizar o universo hospitalar para a importância da adoção de uma cultura centrada no respeito pela pessoa doente e de quem dela cuida, promovendo, assim, a melhoria da atividade assistencial" e "constituir-se como um incentivo a um trabalho colaborativo que envolva profissionais de saúde, doentes e seus familiares".
Diga-se que nos vários locais na área da saúde onde tenho realizado atividade profissional, há algumas características que afetam todos os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares, administrativos, terapeutas, farmacêuticos):
- Há muita gente cansada, diria mesmo esgotada.
- Não percebem muitas das orientações que vêm do governo central.
- Sentem-se injustiçados em muitas áreas da vida profissional.
- Começam a ter reservas/queixas das outras classes profissionais que fazem parte das suas equipas.
No entanto, esta formação foi maravilhosa e faz acreditar que há esperança, por vários motivos:
#1. Poder retribuir, mesmo que de uma forma ínfima, ao que os profissionais de saúde dão à sociedade em geral
#2. Perceber que, apesar de alguns estarem apenas à espera da reforma (e não está diretamente relacionado com a idade, o que é surpreendente), a grande maioria das pessoas com quem contactei adoram o que fazem, disseram que a sua vida profissional faz mais sentido naquele espaço, fazem tudo pelos outros de forma altruísta e são pessoas como nós, são humanos, com as suas histórias, as suas dificuldades, as suas perdas, os seus problemas, as suas necessidades e também com os seus desejos, sonhos, interesses, bons momentos, com as suas alegrias, com amigos, que precisam que se goste deles, que gostam de ser tratados com respeito e que gostam de desporto, de motas, de carros, de dança, de passear e de muitas outras atividades. Foram cerca de 150 pessoas que me provaram tudo isto ao longo da formação e, curiosamente, concluí que são pessoas como em qualquer outro setor de atividade, mas com a dificuldade acrescida de lidar com o sofrimento de muita gente que vai aos CHUC à procura de ajuda. Por outro lado, têm em contacto em primeira mão com a felicidade de ver famílias crescerem, ou enfermos recuperarem.
Para mim, foi uma enorme satisfação estar com estas pessoas e saber que há muitos bons profissionais. Se as políticas forem adequadas, se os líderes das equipas forem líderes de facto, no que respeita ao mais importante em qualquer organização, aka as pessoas, existem todas as condições para realizarem um bom serviço na missão nobre de promover a saúde e o bem-estar na nossa comunidade, no nosso país. Relativamente a estes profissionais:
Percebi que estão disponíveis para ajudar quem precisa.
Percebi que estão com vontade de corrigir aspetos menos bons.
Percebi que podem ser altamente colaborativos.
Percebi que, por vezes, fazem milagres com os poucos recursos que têm ao seu dispor.
Percebi que se entregam com um enorme espírito de missão, se admirarem e respeitarem o líder das respetivas equipas.
Percebi que são seres humanos... e isso é maravilhoso.
Adorei cada momento que estive convosco. Obrigado por toda a vossa entrega e alegria. Desejo que continuem o vosso trabalho com a alma que pude ver que existe em cada um de vós.
Vida longa e Próspera é o que vos desejo!