É
do tipo “realizar auditorias para cumprir calendário” ou do tipo
“quero extrair o conhecimento que puder desta auditoria”?
Independentemente do seu tipo, os custos são os mesmos. Os
benefícios, esses, são completamente diferentes.
O
papel das auditorias é fundamental nas organizações. Permitem
verificar a conformidade e, caso haja desvios, intervir rapidamente
para evitar situações grandes problemas. A auditoria tem 3 fases
essenciais: a preparação, a execução e o relato. Estas 3 fases
permitirão a definição de planos de ação “a posteriori” que
facilitarão a resolução/minimização do problema e a eliminação
das suas causas.
Quantas
auditorias internas se fazem por ano na empresa? Quais os benefícios
decorrentes das auditorias? Porque há empresas que fazem várias
auditorias e outras fazem 1 auditoria antes da auditoria externa? A
quem recorremos para realizar as auditorias? Todas estas questões
são pertinentes para avaliar a seriedade com que encaramos as
auditorias e o próprio sistema de gestão (SG).
Quando
refletimos sobre o que são as auditorias diria que, no seu termo
mais puro, são momentos de avaliação da organização ou dos seus
processos, com a finalidade de ter a consciência do nível de
conformidade da organização relativamente às regras que tem que
cumprir. Se quisermos a definição normativa, temos que uma
auditoria é “um processo sistemático, independente e documentado
para obter evidências de auditoria e respectiva avaliação
objectiva com vista a determinar em que medida os critérios de
auditoria são satisfeitos.”. O importante é que estes momentos
procuram verificar o cumprimento do SG, avaliar a sua
eficácia, identificar desvios ao definido e
identificar oportunidades de melhoria.
No
meio de todos estes objetivos, é importante conhecer a verdadeira
finalidade das auditorias internas para uma organização. Pode ter
como objetivo única e exclusivamente o cumprimento do requisito
normativo referente às auditorias ou avaliar a sua organização num
âmbito específico (qualidade, inovação, ambiente, segurança,
etc.). A valorização dada ao processo de auditoria é completamente
diferente.
No
primeiro caso, corresponde em grande medida ao cumprimento do
calendário e pretende-se que o dia de auditoria chegue o mais
rapidamente possível ao fim, sem criar grande mossa e grandes
questões para resolver até à auditoria de renovação ou
acompanhamento da entidade auditora que “dá o selo da
certificação”!!
No
segundo caso, há um interesse grande em identificar constatações
em auditoria, independentemente da classificação em não
conformidade ou em oportunidade de melhoria. Há ainda uma grande
avidez de conhecimento sobre temas internos problemáticos e
em conhecer, através da opinião e experiência do auditor, sendo
normal um desvio ao tema da auditoria para análise de um problema
específico que a empresa tenha. Estes desvios ao itinerário da
auditoria, não devem preocupar, pois existe a criação de valor
para o cliente e, se não puser em causa os objetivos da auditoria, é
ótimo para a organização, pelo que será bom para o auditor.
Este
último aspeto é fundamental nas auditorias internas, em que a
importância do papel de pedagogo aumenta em muito, pois a
organização espera, por parte do auditor, um apoio e uma orientação
para a resolução de alguns problemas.
Em
qualquer dos casos, é fundamental conhecer perfeitamente a
finalidade do cliente da auditoria, para lhe entregar o
serviço bem feito, cumprindo com os seus objetivos. Claro que existe
sempre o papel de evangelizador, quando o objetivo é, simplesmente,
o cumprimento de calendário, mas nesse caso, a experiência da
empresa e a capacidade do auditor elencar os benefícios de um SG são
diferenciadores na interpretação da empresa.
Um
dos fatores críticos de sucesso de uma auditoria, é a preparação.
Depois de conhecer o objetivo do cliente, é importante conhecer os
critérios de auditoria, isto é, as regras de referência para a
auditoria, quais os documentos de referência que permitem observar o
que está feito e o que deveria estar feito. Este processo,
permite-nos avaliar a eficácia do SG e identificar os desvios ao
definido, sendo a base para futuros planos de ação.
É
também importante que, durante as auditorias, sejam identificadas
situações, que não estando em incumprimento com qualquer critério,
possam ser alvo de reflexão, com a finalidade de melhorar
alguma coisa na organização. Neste caso, não falamos de desvios
aos critérios, mas claramente em oportunidades de melhoria, que
são, muitas vezes, o valor acrescentado que as empresas levam
das auditorias e que nem sempre são analisadas com a profundidade
adequada.
Para
relatar as auditorias, devemos ter em consideração alguns aspetos:
estamos a dar feedback aos clientes da auditoria e, a maioria das
vezes, aos auditados; as auditorias servem essencialmente para
fomentar melhorias e promover o entusiasmo e a motivação
dos atores, na procura da melhoria dos seus processos. Caso isto
aconteça, a auditoria corre bem. Nesse sentido, é vital que o
auditor saiba dar de forma rigorosa, mas motivacional, o feedback
aos auditados. Para isso, pode utilizar uma técnica simples, mas
eficaz, denominada por feedback sandwuiche. Para isso, deverá
salientar aspetos positivos do processo ou atividade
auditadas, depois identificar os aspetos a melhorar ou os desvios à
auditoria e por fim, reforçar os benefícios do cumprimento ou da
alteração dos processos, para que seja mais fácil auditados ou
clientes perceberem claramente de que forma poderão melhorar no
futuro. Se as melhorias que se pretendem alcançar forem claras, será
muito mais fácil a aceitação à identificação de desvios e não
haverá o sentimento de perseguição que existe muitas vezes com o
processo de auditorias.
Podemos
dizer que se for do tipo “realizar auditorias para cumprir
calendário” e se perceber o potencial de valor acrescentado
obtido através das auditorias, poderá passar por mote próprio para
o tipo “quero extrair o conhecimento que puder desta auditoria”.
Se já for do tipo “quero extrair o conhecimento que puder desta
auditoria”, provavelmente já retira grandes doses de valor
acrescentado de cada auditoria.
É
importante que haja a liberdade de expressão na auditoria
para que o auditor possa dizer o que verificou, sem qualquer
condição, dizendo claramente as conclusões obtidas pela auditoria,
e não as conclusões que o cliente gostaria de ver na auditoria. Nem
sempre é fácil assumir esta posição, quando existe uma relação
comercial. O caminho mais fácil é dizer o que o cliente quer ouvir.
No entanto, é o caminho errado para quem quer ver a sua empresa a
melhorar e resolver problemas, alcançando novos patamares de
desempenho.
Neste
tema, é importante que, em cada auditoria realizada, haja a certeza
de que algo vai melhorar. Uma auditoria, para não ser tempo perdido,
deve lançar umas pedradas no charco. Deve provocar urticária e
promover a reflexão interna, motivando para a mudança, para
melhorar alguma coisa.
Faça
auditorias! Melhorar a empresa através de auditorias é possível e
desejável!
Se
assim for, missão cumprida!
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