2015-01-13

Recordar a lição de Ecce Homo!




A obra de arte Ecce Homo pintada no século XIX foi oferecida pelo autor à cidade de Borja, em Espanha, seu destino de férias frequente. Apesar do grande valor sentimental, a obra não é considerada valiosa. No entanto, está no cerne do que já foi considerado um dos mais mediáticos acontecimentos de 2012, devido à tentativa de restauro da D.ª Elias.
Independentemente de fações que se avolumam à volta das teorias de recuperar ou deixar estar como está, esta situação conduz a uma reflexão sobre o que se quer para as nossas organizações. Por um lado, promover a criatividade e a iniciativa de cada colaborador, como elemento fundamental para o sucesso. Por outro lado, encontrar métodos para o controlo de danos provenientes de experimentação e empreendedorismo na organização.

Há várias formas de prevenir danos, contudo algumas delas podem ser contraproducentes para a promoção da criatividade e iniciativa pretendidas pela maioria das organizações. Uma das formas mais eficazes é, sem dúvida, a existência de competências na organização. É fundamental que, independentemente das atividades a realizar de conceção, planeamento, execução, ou monitorização, as pessoas estejam preparadas para atuar a qualquer momento, e com o maior número de competências possíveis para a realização das mesmas.

Assim, é importante para as empresas analisarem as suas necessidades ao nível de competências e identificar quais as existentes e quais as lacunas e planear a forma de suprir as lacunas e aumentar as competências individuais e organizacionais, havendo situações de risco assumido, mas controlado, o que não aconteceu com o restauro de Ecce Homo, realizado pela diligente e voluntariosa D.ª Elias, a quem faltavam competências para a execução da tarefa.

A gestão de competências é um ponto fulcral nas empresas pois, tal como a senhora destruiu a obra de arte, uma atividade mal executada pode pôr em causa o bom nome da empresa. A confiança com as várias partes interessadas demora bastante tempo a construir, mas é rápida a sua deterioração. Pode não ser possível a intervenção de equipas de restauro para a recuperação da confiança, tal como neste caso ainda não há certezas quanto à recuperação da obra.

Nesse sentido, é muito importante que as empresas tenham as competências necessárias. Também na Inovação, as competências e o conhecimento são fundamentais. Não é raro encontrar curiosos em determinadas áreas a tentar inovar. Por vezes, conseguem, mas o esforço é muito maior para obter os mesmos resultados. Mesmo em inovações que aconteceram por acaso, os seus criadores detêm uma base de conhecimentos forte, o que lhes permite encontrar novas aplicações para resultados que não deram certo. Já todos ouvimos falar dos post-it, do viagra, da consequência da maçã de Newton ou da penicilina. Há muita competência, atenção e preparação para ter a sorte de encontrar algo inovador. Inovar sem competências, seria comparável à correta recuperação da obra pela D.ª Elias. Uma sorte bestial, ao nível do milagre de ganhar o EuroMilhões sem jogar.

Considero que vivemos num país com um bom clima e com pessoas engenhosas. No entanto, é importante conhecer as competências que cada um de nós possui e quais as que deve possuir.

Podemos retirar uma lição do caso “Ecce Homo”: 

Não basta a genialidade, a diligência e o voluntarismo. 
É essencial que, para a função pretendida, se acrescente a técnica e a competência.

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