2020-05-20

A mudança na formação, expetativa e realidade– da era AC até à DC



mimi-thian, in unsplash
Qual é o retrato da formação antes do Covid-19, durante o Covid-19, e qual se espera que seja depois do Covid-19? A formação à distância é uma realidade? O que será da formação presencial? Vai acabar? Qual o contributo da pandemia para as mudanças no mundo da formação? Quais as dificuldades relacionadas com a formação à distância? E as vantagens? O que dizer do futuro da formação?


Formação - expetativa e realidade


Quanta formação faz à distância? E presencial? Se estas questões fossem feitas a 31 de dezembro de 2019, a maioria das pessoas afirmaria que

a formação que fez até à data, foi essencialmente presencial. Haveria uma minoria que diria que já teve algumas experiências de formação à distância (FAD) e um número ainda menor de pessoas que diriam que só fazem formação à distância.
E em 31 de Maio de 2020? Qual será a resposta?

A formação à distância (FAD) na era AC (Antes do COVID)

A DAF já tem um percurso longo. Desde há muitos anos que existem cursos à distância, com a entrega de manuais e outros materiais didáticos, e um nicho muito específico de pessoas faziam regularmente essas formações. Na década de 80, tinha um amigo que fazia vários cursos de eletrónica à distância. Ele era, aos nossos olhos de adolescentes, um génio. Foram os primeiros contactos que tive com algum tipo de formação, de forma consciente.
Nos últimos anos, a formação via digital tem vindo a fazer um caminho lento de afirmação. A oferta é maior, as entidades a trabalhar esta área aumentaram, as instituições de ensino superior começaram a ter oferta variada nesta área, as pessoas vão experimentando esta modalidade e muitas reconhecem vantagens, tornando-se utilizadores deste tipo de oferta.
Pela minha experiência, há algumas empresas abertas a este tipo de formação, mas a grande maioria, quando confrontados com a possibilidade de formação presencial ou FAD, escolhe a modalidade presencial. A formação que dei à distância, teve os custos como forte motivador. Os casos específicos foram relativos a uma empresa em Cabo Verde, e uma empresa no norte do país. Este último caso referia-se a uma reciclagem de uma formação que já tinha dado presencialmente há uns tempos atrás. O valor das deslocações e outras despesas associadas foram o fator decisivo para a decisão. Também já tinha dado alguns webinares, mas situações pontuais e espaçadas no tempo.
Também como formando não foram muitas as experiências. A mais significativa foi em 2009, aquando da renovação do CAP de formador (nessa altura ainda se tinha que renovar o CAP) e foi uma formação interessante, pois consegui estar de férias no Algarve e, ao mesmo tempo, cumprir com algo relevante para a minha atividade profissional. Na altura a renovação do CAP incidiu sobre o tema “formação à distância” e deu-me uma compreensão aprofundada da realidade à data, das perspetivas de futuro e de algumas ferramentas/plataformas que eram usadas. Fiquei com uma ideia muito positiva da formação, apesar das dificuldades associadas ao acesso à internet que ainda havia na altura. Na prática, apesar do fascínio e da vontade com que fiquei de trabalhar com formação à distância, até final de 2019, foram poucas as experiências significativas quer como formando, quer como formador.
Há algumas questões que fazem com que a formação à distância fosse vista com alguma desconfiança, nomeadamente a falta de interação entre formandos e formador, a responsabilização do formando na condução da sua formação, algumas dificuldades em aceder à internet ou usar as ferramentas previstas e a quantidade de informação que se disponibiliza para a formação, muitas vezes roçando a “infobesidade”.
Esta foi a era da formação AC, ou seja, Antes do Covid.

A formação à distância (FAD) durante a pandemia

A atual pandemia resultante do Corona Vírus, veio acelerar o avanço tecnológico. A escola em casa, o teletrabalho e a procura de manter os trabalhadores ocupados, a partilha de momentos com a família, os encontros entre amigos, as reuniões de trabalho, e muitas outras situações, fez com que a utilização do digital disparasse. As empresas tecnológicas ofereceram soluções rápidas, em termos de funcionalidade e de capacidade que não deveriam ter previsto para os tempos mais próximos. Os utilizadores tiveram que se atualizar e o digital passou a fazer parte da sua vida de uma forma intensa. As atualizações de hardware por parte de estudantes, de profissionais e de empresas foi uma realidade. De repente, todos estamos mais capazes, mais preparados, e com um número de experiências digitais que não eram previsíveis no início de 2020.

A formação à distância (FAD) no período DC (Depois do COVID)

E a era da formação DC (Depois do COVID)?
Com todo o contexto resultante da pandemia, a FAD tornou-se uma realidade. Uma realidade que está para ficar. As pessoas, a tecnologia e a confiança neste tipo de formação aumentou. Significativamente. Fomos obrigados a trilhar um caminho independentemente da nossa vontade. E a FAD faz parte deste caminho.
No entanto, ainda está e curso um processo importante: a preparação dos formadores para proporcionar FAD. A FAD é muito diferente da formação presencial. Não se pode transpor de forma simplória uma formação presencial numa FAD, com a diferença do meio de comunicação, uma plataforma. Esta passagem simplória, segundo muitos especialistas da formação e professores que têm aprofundado o tema, é o caminho mais rápido para falhar. A FAD tem características diferentes da formação presencial. É fundamental perceber bem essas diferenças e preparar formações bem diferenciadas para a formação presencial e a FAD.
Tenho tido formação sobre o tema, que complementa e atualiza os meus conhecimentos anteriores e tenho seguido com grande atenção duas instituições: a Porto Editora, através dos webinars da Escola Virtual, plataforma dedicada ao ensino, e o portal Forma-te, portal com pergaminhos e provas dadas no mundo da formação. Entretanto, já tive a honra de ser convidado para dois webinars, um relacionado com o desenvolvimento pessoal e outro relacionado com a liderança e a estratégia de empresas. Foram desafiantes e aprendi bastante com estes desafios. Também já dei algumas formações à distância e a experiência tem sido gratificante. Uma nota: é importante que a formação à distância esteja planeada com rigor, pois o sucesso desta formação depende, em grande parte, deste rigor, do saber em que momento é que vai acontecer alguma sessão síncrona, ou que se pode consultar material complementar. Para ultrapassar a falta de interação direta entre pessoas, tão importante no relacionamento e desenvolvimento das pessoas, é fundamental um planeamento rigoroso, ao nível de prazos, conteúdos e momentos de interação não presencial.

Benefícios da formação à distância (FAD)

A FAD vai estar cada vez mais presente na nossa vida. Estes meses corresponderam a um salto de anos na presença desta modalidade de formação, na vida das pessoas e das organizações. Há um conjunto grande de vantagens associados a esta modalidade: o ritmo do formando é imposto pelo próprio; os conteúdos estão disponíveis por longos períodos de tempo; a formação pode ser obtido em qualquer lugar, a qualquer hora; reduz custos; evita deslocações a horas previamente determinadas; pode chegar a um maior número de formandos; aumenta o papel do formando no processo de aprendizagem, tornando-o o grande responsável pelos conhecimentos obtidos; desenvolve competências paralelas (capacidade de comunicar à distância, competências de organização de aprendizagem, utilização de tecnologias,…).

Formação - expetativa e realidade

Desta forma, sabendo que a realidade em 2020 é muito diferente das expetativas do início do ano, podemos dizer que a FAD é uma realidade que está presente e vai continuar.
A formação presencial não vai desaparecer; aliás, a utilização de modelos complementares que ofereçam, de forma otimizada, FAD e formação presencial, pode alavancar em muito os resultados da formação.
A atitude de pessoas e empresas face à formação mudou. Atualmente, a recetividade e aceitação da FAD é muito maior do que a que existia no início de 2020.
Para concluir, podemos dizer que, se Darwin se estivesse a referir às organizações, continuaria com toda a razão, ao dizer:

Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. Quem sobrevive é o mais disposto à mudança!
                                                                               Charles Darwin - Biólogo 







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