Nem todas as jornadas de inovação começam com confiança plena — algumas começam com curiosidade, dúvidas e vontade de aprender. Este é o caso de uma empresa portuguesa que, ao descobrir a metodologia Design Thinking, decidiu explorar como esta poderia ajudar a desenvolver novas soluções e uma cultura mais criativa.
A organização possui infraestruturas e equipamentos fortemente orientados para a produção, o que tem limitado as atividades de experimentação e inovação. Ainda assim, deu o primeiro passo ao envolver colaboradores da produção e do gabinete técnico numa formação introdutória sobre Design Thinking.
O processo iniciou-se com entusiasmo moderado, mas também com algum ceticismo. A perceção de que o Design Thinking requer tempo e dedicação acabou por arrefecer o ímpeto inicial. A empresa enfrenta desafios internos: grande carga de trabalho operacional, pouco espaço para “inventar” e um ânimo organizacional fragilizado, onde se percebem sinais de desmotivação e fraco sentido de pertença.
Durante a formação, alguns colaboradores mostraram interesse e curiosidade, valorizando a oportunidade de contribuir com ideias reais. Outros, porém, participaram de forma menos envolvida. Apesar das limitações, a empresa conseguiu compreender o conceito e as potencialidades da metodologia, embora subsistisse o sentimento de que a sua aplicação prática seria difícil.
O caso mostra que mudar a cultura de uma organização é possível, mas requer tempo, consistência e envolvimento. Para que o Design Thinking produza resultados positivos, será necessário um trabalho de fundo, centrado em:
- Promover uma mudança cultural que valorize a curiosidade e a experimentação;
- Estimular a vontade de resolver problemas e compreender as causas de insatisfação;
- Reforçar o sentimento de pertença e o compromisso coletivo;
- Introduzir ferramentas simples de criatividade e inovação, que permitam obter vitórias de curto prazo e criar confiança no processo;
- Definir e implementar processos estruturados em vários setores da empresa.
Reflexões Estratégicas
O Design Thinking não é uma fórmula mágica — é uma metodologia que se desenvolve em ambientes abertos ao erro, à colaboração e à escuta ativa.
Há um conjunto de fatores que favorecem o sucesso:
- Cultura de inovação e aprendizagem contínua;
- Liderança comprometida e protetora das equipas;
- Estruturas flexíveis e multidisciplinares;
- Foco genuíno no utilizador.
- Mentalidade de eficiência extrema;
- Medo do erro e ambientes punitivos;
- Falta de tempo para reflexão e experimentação;
- Isolamento entre áreas e ausência de colaboração.
Para empresas como esta, a adoção do Design Thinking deve começar com pequenos passos estratégicos:
- Formação e sensibilização, com workshops e estudos de caso inspiradores;
- Projetos-piloto simples, com desafios concretos e resultados visíveis;
- Liderança transformacional, que inspire e dê o exemplo;
- Ambientes seguros, onde o erro é entendido como parte natural do processo;
- Integração entre áreas, criando equipas multidisciplinares com autonomia para explorar soluções.
O Design Thinking é uma ferramenta poderosa de inovação, mas a sua eficácia depende do contexto organizacional. Empresas como a Airbnb ou a IDEO demonstram que, quando há vontade, colaboração e abertura à experimentação, é possível transformar profundamente a experiência do cliente.
Contudo, em organizações ainda muito centradas na eficiência e no controlo, o desafio passa primeiro por cultivar uma mentalidade adequada. O foco deverá estar em criar espaço para ouvir, testar e aprender.
Mais do que uma metodologia, o Design Thinking é uma mudança de cultura — um convite à empatia, à criatividade e à colaboração. Quando enraizado, torna-se parte do DNA da empresa e da forma como ela imagina e constrói o seu futuro.

















